Culturas Urbanas

Trabalho produzido por estudantes do Bacharelado em Jornalismo do Centro Universitário Tabosa de Almeida (Asces-Unita).

O projeto

As culturas urbanas como mecanismos de contestação política

  

     Refletir sobre as culturas urbanas que podem ser encontradas em Caruaru (PE). Este foi o objetivo deste projeto, uma plataforma multimídia (incorpora textos, fotografias, vídeos e gráficos), desenvolvida de maneira interdisciplinar por estudantes de diferentes períodos (2º, 4º, 6º e 8º) do Bacharelado em Jornalismo do Centro Universitário Tabosa de Almeida (Asces-Unita), no decorrer do semestre 2018.2.

     A produção pretende analisar como as manifestações, classificadas muitas vezes como culturas urbanas, figuram como mecanismos de contestação política. O grafite que reflete sobre a falta de infraestrutura sanitária de algumas comunidades. Os cartazes, colados aleatoriamente, que chamam a atenção para os casos de corrupção. As músicas que evidenciam dilemas diversos que são, em sua essência, também políticos.

     Evidenciando a questão experimental, os estudantes envolvidos buscaram neste recorte trabalhar a temática culturas urbanas estabelecendo uma relação dela com o cenário político nacional, estadual ou mesmo municipal. Colocando a cultura enquanto ferramenta de manifestação que também contribui para a construção de análises sobre os rumos políticos da nação. Articulando a prática jornalística a reflexão cidadã que espera-se para a atuação nesta área.

     Esperamos que gostem!

Artes de rua

A rua como palco para arte hippie

A vida, os desafios e a rotina de quem sobrevive da arte que é feita nas ruas de Caruaru

     Há uma grande diversidade de artistas de rua que encontram dificuldades em ter sua produção devidamente apreciada pelo público. A sociedade geralmente ignora ou não leva em consideração o esforço e a habilidade dessas pessoas. Muitas vezes, eles usam essa arte para tirar seu sustento. Porém, o preconceito acaba taxando o trabalho delas como “vagabundagem” e não como uma forma de trabalho digno e honesto.

     Os artesãos de rua são os mais conhecidos. Viajam o Brasil inteiro vendendo artes feitas à mão. Estes, são denominados hippies pela sociedade. Mas, como comenta Walter Silva, que trabalha vendendo sua arte em vias como a Avenida Rio Branco, no Centro de Caruaru: “não nos determinamos como hippies, nos determinamos como artesãos, artistas de rua, malucos de BR”.

     Boa parte dos artesãos diz se orgulhar deste trabalho. Alexandre Santos, mais conhecido como Barão do Couro, trabalha com artesanato há 27 anos e conta que “não é pela questão do dinheiro, mas pela paixão pelo artesanato”. “O pessoal tá incentivando nossa arte, tá incentivando nossa cultura, porque nossa cultura tem muita discriminação. Mas nós desdobramos essa discriminação que tem no mundo e vamos elevando e relevando essa arte para vários países e vários estados do Brasil”, complementa.

     Apesar dos preconceitos e dificuldades, os artistas se sentem satisfeitos e felizes em distribuir sua arte para as pessoas que se interessam em comprar os itens confeccionados. “Me sinto privilegiado por sobreviver disso. Me deixa feliz saber que ainda têm pessoas que dão valor ao trampo feito à mão”. Acrescenta Walter Silva, que nas ruas é mais conhecido como Ciclope.

     Depois de conhecer um pouco sobre os artistas de rua, sua vida e suas opiniões, acompanhe a entrevista do professor e sociólogo Paulo Ricardo de Paiva sobre como a sociedade observa essa arte e os desafios que essas pessoas enfrentam em seu dia a dia. Em seguida, confira a sessão de fotos sobre a realidade hippie.

Artistas de rua: uma visão acadêmica

Hippies

Confira a opinião de 50 caruaruenses sobre a arte de rua (pesquisa aplicada por estudantes do Bacharelado em Jornalismo do Centro Universitário Tabosa de Almeida).

Dança e música

Hip hop: a dança como forma de resistência

O movimento das ruas e a forma de levar ao estrelato uma história escondida pela sociedade

     O hip hop teve a sua primeira aparição em uma periferia de Nova Iorque, no Estados Unidos, assim sendo conhecido pelos jovens dos guetos americanos e depois se espalhando pelo mundo. Este movimento musical é uma manifestação da realidade dos seus praticantes. No Brasil, este ritmo se popularizou a partir da década de 1990, na estação São Bento do Metrô, em São Paulo, considerado o berço do Hip Hop.

     Ao longo dos anos, este ritmo marcou presença nas principais capitais e no interior brasileiro, onde acabou conquistando espaço. Como é o caso de Caruaru (PE). A exemplo da b-girl Helena Ferreira, que iniciou na dança por meio de um espetáculo que retrata a realidade do Monte Bom Jesus, na periferia da cidade. Ela relata que o hip hop lhe ajudou a expressar empatia e compartilhar experiências com as pessoas, apesar de ser alvo de discriminações por ser uma mulher inserida em uma cultura predominantemente masculina.

     Quanto a importância que este estilo tem na vida dos jovens, Helena destaca: “o hip hop preza por princípios de humanidade e igualdade nas classes sociais. É, em si, um catalisador para os jovens da periferia. Sendo assim, é um movimento de contracultura onde podem, por meio da cultura, reivindicar direitos e denunciar abusos”.

     No hip hop existem várias vertentes de estilos culturais. Música (RAP), grafite e street dance fazem parte desse movimento. 

Street dance

     Outra alternativa de ritmo diferenciada é o rock. Um estilo  que surgiu na Europa e Estados Unidos, ganhando popularidade no Brasil nas décadas de 70 e 80 e que serve como contestação política e expressão de alguns grupos sociais.

Rock

Confira a opinião de 50 caruaruenses sobre o rock (pesquisa aplicada por estudantes do Bacharelado em Jornalismo do Centro Universitário Tabosa de Almeida).

Lazer

Espaços de lazer cada dia mais urbanos                              

Diante o crescimento da cidade, opções de entretenimento têm assumido cada vez mais características urbanas  

     A urbanização tem acelerado a rotina da população. O crescimento das grandes cidades tem resultado na concentração de pessoas nos centros urbanos. Tais mudanças também fizeram surgir diferentes espaços de lazer, típicos de ambientes urbanos.

     Em Caruaru, as praças públicas e a Avenida Agamenon Magalhães (que recebe, semanalmente, o projeto Nossa Avenida) são alguns dos espaços escolhidos pelas pessoas quando se trata de diversão e bem estar. Um exemplo é o cotidiano do feirante Adonias da Silva, que afirma ficar doente no dia em que não marca presença na Praça José Naval, localizada no bairro Salgado. “Aqui eu chego e encontro um monte de velhinho igual a mim. A gente fica contando lorota, o tempo passa e a gente é feliz”, relata.

     Outra opção encontrada na cidade é a ciclofaixa, também  localizada na Avenida Agamenon Magalhães. A intervenção tem sido um grande atrativo para o público em geral. O estudante de engenharia civil Diego Átila destaca a diversidade do local. “Aqui é uma simples forma de fugir um pouco da rotina. Temos acesso a novos conhecimentos, através das diferentes culturas presentes”, destaca.

     Neste casos, o lazer nas ruas é um refúgio para o cotidiano presente na cultura urbana. Os parque e os bares são alternativas que apresentam outras formas de diversão variada para todos os tipos de gostos e faixas etárias.

Parque do São Francisco

Bares e Casas Noturnas

     Muitos, quando criança, sonharam em ser um super herói ou um personagem de desenho animado. E também há espaços para grupos de jovens e até mesmo adultos que transformaram a brincadeira em cosplay (o ato de se fantasiar de personagens de desenhos, o qual vem reunindo diversas pessoas em eventos por todo o país).

Arte do Cosplay

Novos modelos de comércio

Comércio sobre rodas

Inovação dos food trucks movimenta o mercado caruaruense e começa a conquistar seu espaço

     Os comércios, inclusive os novos modelos, são um forte exemplo das culturas urbanas. Há alguns anos, as empresas (e também as locais) começaram a inovar e fugir do tradicional. Dando início a  novos modelos de comércios em todo Brasil.

     Os food trucks (os famosos carros de comida), o artesanato, os brechós e a venda de doces em pontos estratégicos são exemplos desses novos modelos de comércio. O empresário João Medeiros, da Churrascada, com sede em Caruaru, conta que o food truck proporciona aos clientes um ambiente novo, descontraído, aberto e com várias opções no cardápio. O analista de  planejamento e controle de produção, Diego Coelho, é cliente de food truck e confirma. “Costumo frequentar sempre. Além de proporcionar variedade e conforto, é um ambiente bem descontraído”, observa.

     A estudante de Jornalismo Rita Araújo é adepta a compras em brechós. “Além de uma questão econômica, por poder adquirir mais peças, é uma forma de reutilizar roupas e preservar o meio ambiente”, explica.

     Já a artista plástica Mariana Souza e a doceira Cleonilda dos Santos destacam que, no início, entraram nos novos modelos de comércio pela necessidade. Mas, com o tempo, passaram a se sentir realizadas. 

     Alguns dos fatores que serviram como combustível para a criação ou a migração destes novos modelos de empreendimento foram: consciência ambiental, a crise econômica e estar proporcionado uma inovação contínua e experiência positiva no mercado consumidor.

     Localizada no bairro Maurício de Nassau, o Alameda é um espaço de gastronomia variada que funciona como um food park. O local também oferece shows e apresentações culturais.

Alameda - Food Park

     Outro modelo de comércio que tem feito sucesso na cidade é a Loja Plural. Localizada na Avenida Rio Branco, a Plural investiu no modelo de espaço colaborativo. Uma alternativa para os microempresários que desejam ter uma loja física e expor seus produtos.

Loja Plural


Localização

Artes visuais

A beleza da 'selva de pedra'

“É como se pudesse sentir um pouco do que o artista sentia quando estava construindo”, destaca Marisa Silva

     Os ambientes urbanos são caracterizados pelo caos. É fácil encontrar obras de artes espalhadas pelas cidades, como pinturas, grafites e monumentos artísticos capazes de embelezar ainda mais alguns prédios. Em meio a densidade das grandes cidades, edifícios substituem e escondem as paisagens naturais. Nesse cenário, as artes visuais além de representarem a visão dos artistas, trazem beleza para a ‘selva de pedra’.

     A estudante Marisa Silva não tem o hábito de passear pelo centro. Confessa que sempre que precisa resolver algo, faz questão de ir por onde encontra esse tipo de expressão artístico-cultural. “Gosto de parar para observar, as cores me chamam a atenção. É como se pudesse sentir um pouco do que o artista sentia quando estava construindo”, explica.

Grafite e pichação

     Já o motorista Marcelo José passa todos os dias por essas obras e diz que a correria e a pressa não permitem parar e observar. “Quase sempre eu quero terminar logo meu trabalho e chegar ao destino o mais rápido possível. Mas não me importo quando o sinal fecha se estiver onde possa olhar um pouco dessas pinturas”, relata.

     Para Marcelo, a monotonia de alguns prédios transmite um sentimento de exaustão, mas as obras de arte são um estímulo. Cada vez mais, os edifícios escondem a beleza natural das cidades e as obras de arte visuais, além expressões artísticas, são  importantes para trazer vida às cidades.

     A arquitetura faz parte da identificação visual de uma cidade. No município de Alagoinha, na microrregião do Vale do Ipojuca, algo que chama a atenção é a arquitetura barroca que encontra-se nos designer das casas e nas ruas.

Arquitetura e urbanismo de Alagoinha

Mobilidade urbana

Dificuldades com o transporte público e outras questões da mobilidade urbana 

Cada vez mais pessoas têm recorrido ao transporte particular, devido problemas com o público

     Considerado como a alternativa de locomoção mais viável para média e grandes cidades (seja por ocupar menos espaços nas ruas ou mesmo por questões ambientais), o transporte público deixa de ser utilizado por muitas muitas pessoas pela dificuldade em utilizar os serviços. Aí estão inclusos desde problemas com a regularidade e pontualidade nos horários, até mesmo as condições estruturais dos transportes.

     São pessoas com o a operadora de caixa Keicy Kelly. “Os principais motivos foram a perda de tempo com os ônibus, as esperas longas para ir ao trabalho. Tinha que sair de casa quase uma hora antes para não chegar atrasada. Com a moto, tudo ficou mais fácil. Me sinto independente. Vou e volto sem precisar esperar e nem depender de ninguém”, destaca. 

     Segundo a Lei de Mobilidade Urbana, sancionada em 2012, para avaliar a eficiência da mobilidade urbana de uma cidade é preciso considerar três aspectos: a organização do território, o fluxo de transporte de pessoas e mercadorias e os meios de transportes utilizados.

     De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran Pernambuco), Caruaru possui cerca de 150 mil veículos e transporta em média 3 milhões de pessoas por mês.

     E este é apenas um dos problemas em relação a mobilidade urbana da cidade onde mora Keicy Kelly, Caruaru. As calçadas irregulares se apresentam como as verdadeiras vilãs das pessoas com necessidades especiais, e até mesmo daquelas que não as possuem. O Plano Piloto, que estrutura principalmente a organização do transito da cidade, está desatualizado há mais de vinte anos e é composto por ruas e calçadas estreitas.

     O problema se agrava nos dias em que funciona a Feira da Sulanca, complicando a rotina de quem precisa de um funcionamento melhor das vias públicas para se deslocar. Algumas pessoas acabam recorrendo a outras formas de mobilidade, como mototaxistas, aplicativos de motorista particular e até mesmo o uso de bicicletas. Um processo cultural que aponta em direção a um trânsito com um maior número de carros e mais perda de tempo.

     Aparentemente, o transporte público parece ser a solução para a mobilidade urbana. Porém, é necessário que haja uma dedicação mais efetiva do poder público para desenvolver um serviço que atenda a demanda da sociedade e que permita, no mínimo, uma logística melhor para o deslocamento da mesma. Essa dedicação acontecerá com uma estrutura que possibilite um trafego e um fluxo melhor dos veículos públicos, uma frota maior e mais adequada para a população.

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